De Norte a Sul do Brasil, extremos climáticos já afetam plantio de soja
O plantio de soja no Brasil encontrou seu primeiro percalço na safra 2023/24. O clima irregular — ainda que dentro do esperado para um ano de El Niño — está afetando o andamento da semeadura em algumas das principais regiões produtoras do país.
Diante do excesso de chuva em algumas regiões e a falta dela em outras localidades, até 21 de outubro, o plantio chegou a 28,4% da área de 45,1 milhões de hectares que deverão ser cultivados com soja nesta safra. O ritmo está atrasado em relação aos 34,1% semeados um ano antes, mostram dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
No Rio Grande do Sul, havia otimismo entre produtores nesta temporada, após as grandes perdas da safra passada causadas pela seca decorrente do fenômeno climático La Niña.
No entanto, no atual ciclo, com o clima sob influência do El Niño, choveu mais do que o necessário, especialmente em setembro, e o produtor gaúcho vai demorar mais para colher o trigo, e, consequentemente, colocar a soja nos campos.
“Tivemos um grande volume de chuva por um longo período, algo poucas vezes visto no Estado. Agora os produtores vivem um momento de apreensão, uma vez que muitos deles não contam com trabalhadores suficientes para fazer a colheita do trigo e a semeadura da soja na sequência”, afirma Alencar Rugeri, assistente técnico estadual em culturas da Emater-RS.
Com o excesso de umidade no solo, o produtor de soja corre o risco de perder as janelas ideais para semear o grão, de acordo com Rugeri. Desde o dia 1º de outubro os agricultores gaúchos estão autorizados a pôr as sementes no solo. Mas, em função da terra mais úmida que o normal, muitos deles mantêm cautela e aguardam o momento mais apropriado para iniciar o plantio, segundo a Emater.
Cautela também deverão ter os produtores do Centro-Oeste e do Matopiba [confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia], na avaliação de Fabio Marin, professor do departamento de engenharia de biossistemas da Esalq/USP.
Ele observa que este será um ano típico do padrão do El Niño, com muita chuva no Sul do país e a falta de umidade em partes do centro-norte do Brasil.
“No Matopiba, o período de chuvas que começa em novembro, pode atrasar, e, além disso, as precipitações devem terminar mais cedo. Não há motivos para ser otimista com a safra na região. Ela pode até ser boa, mas neste momento é pouco provável que isso aconteça”, afirma.
Em Mato Grosso, maior Estado produtor de soja do país, a falta de chuva e o aumento das temperaturas — que passaram de 44 °C em algumas regiões — motivaram o replantio em algumas áreas, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Já no Paraná, segundo maior produtor nacional, a situação de clima chama a atenção, segundo Marin. O Estado até este momento não registrou chuvas em grandes volumes como as que castigaram regiões do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
“No Paraná, a safra caminha muito bem. As chuvas ocorreram na medida certa, favorecendo também a rápida semeadura do milho de verão”, observa.
De acordo com Edmar Gervásio, analista do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), “o plantio de soja, de modo geral está bastante adiantado no Estado, e as chuvas não devem impactar no ritmo dos trabalhos.
FONTE: https://agronoticia.com.br/noticia/21971/de-norte-a-sul-do-brasil-extremos-climaticos-ja-afetam-plantio-de-soja.html